Acordar cedo custa-me muito. Sorte é que o Bruno não se importa de acordar antes do sol raiar e levanta-se primeiro para preparar o pequeno-almoço. Temos comido logo pela manhã 2 iogurtes com bolacha maria & fruta e um capuccino instantâneo [e pão, quando há]. Ficamos logo bem nutridos. A habitual rotina de preparar as mochilas, o aquecimento dos músculos (isto tem sido essencial para evitar dores musculares durante a caminhada e o estiramento ao final do dia também se revela muito importante) e prontos para mais um dia. Hoje temos alguma dificuldade. Até Navarrete são cerca de 33 Km e as localidade são apenas de 10 em 10 Km. 1º Viana a 11km, seguida de Logroño a 9,2 km e por fim Navarrete a 13 km. O objectivo é chegar à hora de almoço a Logroño e os últimos 13 km fazermos da parte da tarde.
O sol ainda não tinha nascido quando deixamos Torres del rio. E uma coisa importante é não deixar de olhar para trás. Encontramos belas paisagens. Um pouco como na vida, somos o que somos agora, porque aprendemos ao longo da vida. Não um lamento ao que já passou, mas antes agradecimento ao que nos proporcionou.
Olhar para trás e ver Torres del Rio |
O inicio da caminhada é subida de montes. Mas fico grata de ser logo nos primeiros Km. Pela manhã, ainda frescos, o caminho é sempre mais fácil. A subida não é intensa subimos dos 400 aos 600m de altitude.Seguimos quase sempre por caminhos de gravilha (que os ossinhos dos pés do Bruno agradecem) até Viana e assim que Vi Viana, adorei. Aqui parámos para comer algo e beber café. Passamos numa pequena padaria e o cheiro a pão quente inundou-me o olfacto. O sorriso daquela padeira alegrou-me a alma. O cuidado era extremo na forma de atender. Acho que gostava do que fazia. Seguimos caminho até Logroño foi fácil a caminhada até lá com uma descida suave.
Apesar do tempo nublado que facilita a caminhada não podemos deixar de nos hidratar. Verdade que para mim durante as caminhadas parece que não consigo beber água. Opto por beber Aquarius [que no caminho é fácil de encontrar] para manter sempre hidratação e repor electrólitos importantes para os músculos.
'Aquarius a hidratar peregrinos' |
À chegada a Logroño, perto do meio-dia fizemos mais uma pausa para almoçar, mais um vez com o pão que compramos e sentámo-nos à beira do rio Ebro. A paragem foi curta, pois ainda nos faltam 13 Km até Navarrete. Atravessamos Logroño e quase a saída desta pelo Parque de La Grajera encontrámos um Peregrino ao 'revés'. Olho para eles como Mestres. Este Peregrino já tinha feito o caminho vezes sem conta e desta vez, após chegar a Finisterra decidiu percorre-lo ao contrário. Creio ser mais solitário, apesar de encontrar inúmeros peregrinos a caminho de compostela. Partilhámos minutos de conversa para conhecer as histórias uns dos outro e desejar bom caminho... não só até Santiago, mas pela vida.
Monumento aos peregrinos em Logroño |
A saída de Logroño, pelo parque permite algum descanso aos pés o Bruno só dizia: 'devia ser assim até Santiago' mas naaaaaa... tem mais piada descer e subir monte e cascalho. Quase no alto de La Grajera, desesperava... o cansaço apoderavasse de mim, mas no meio de nenhures, quando não se vê sinal de alma, quando tudo parece inalcançável tem de se continuar a caminhar. Sem saber se falta muito ou pouco, o corpo sabe que tem de seguir em frente... o caminho continua.
Parque de La Grajera |
Em um par de horas estávamos em Navarrete. Cansados seguimos até ao albergue municipal. Os hospitaleiros que nos receberam foram muito atenciosos (também eles peregrinos), deram-nos uma lista de albergues onde se pode ficar com donativo [mais tarde partilho]. Ficámos nas ultimas vagas do albergue. Tinha casa de banho no quarto, o que se torna menos cansativo. A cozinha era muito bem equipada e hoje preparámos arroz de marisco para o jantar. Havia uma tienda bem perto e hoje o jantar foi de categoria. Enquanto eu fazia o jantar, o Bruno lavava a roupa - é bom partilhar tarefas- Enquanto fazia o jantar, um Sr oriundo das Filipinas travou conversa comigo. Acabamos por o convidar para jantar. Partilhou connosco que iniciou a viagem com uma mochila de 18 Kg cheia de comida pré-cozinhada típica das Filipinas e na subida dos Pirenéus lá se decidiu: 'ou eu, ou a comida'. O nosso arroz de marisco deve ter sido um repasto.