terça-feira, 16 de setembro de 2014

5º dia - Puente de La Reina a Ayegui

24 Km de caminhada.

Mais um dia em que acordámos antes do nascer do sol, hoje às 5h30. Bebi logo um café em Puente de La Reina. Bem queria livrar o corpo e a mente de substâncias viciosas, mas bom... o café diário ainda se mantém. No outro dia alguém me dizia que o pior do café é que isso implica obrigar o corpo a trabalhar. E faz sentido. Vivemos a um ritmo tão frenético, onde nos é exigido mais e mais e para continuar nesse ritmo temos de o compensar com café.
Ok, ok. No caminho não seria preciso café. E não. Não existe obrigações, apenas caminhar. O pior é que de já ter esta rotina, chegam as dores de cabeça...
Sem exigências... mas talvez um dia deixe o café.

Puente de La Reina - Mosteiro


Mas bom, hoje o nascer do dia foi deveras delicioso. Adoro o tempo fresco logo da manhã. O friozinho de uma pequena localidade de interior e o raiar do sol no caminho motiva-me sempre.
O caminho foi quase sempre por terra batida até Cirauqui (7,5 km), onde parámos para um 2º pequeno-almoço. Mais uma vez o tradicional pão com doce e um café con leche de uma máquina de distribuição. Chega a uma altura que não exijo muito. Logo após termos colocado as mochilas às costas encontrámos o Paco, que carinhosamente nos chama de 'Os Portugueses'. Sorrio sempre que ele diz isto.
Instantes depois seguimos viagem. Ainda nos falta muito até Estella (cerca de 15 km), mas à qual anseio muito chegar. Dizem ser muito bonita.

À saida de Puente de La Reina

Seguimos quase sempre por terra batida e o tempo está entre o sol e a chuva. Há sempre uma dinâmica de tira e põe capas a calças de chuva. UFFF.
À chegada a Villatuerta com dores em todos os ossinhos dos pés, desespero e acabamos por nos sentar num parque de merendas. Foi deveras reconfortante tirar os ténis de caminhada e fazer elevação dos pés. Nesta posição, 5 ou 6 minutos e diminui logo o inchaço e as dores de pernas/pés. Aproveitamos para almoçar aqui. O Bruno preparou-me uma bela sanduiche de chouriço, queijinho e tomate (não há muito que optar), mas é bem mais económico comprar e fazer, do que pagar 5 ou 6 euros por um bocadillo mal-amanhado de chouriço. Enquanto o Bruno me prepara o 'almoço', sinto um calor no peito e borboletas na barriga. Não é preciso muito para me apaixonar. Basta ser. Durante quase dois anos, ele fez de tudo para me impressionar. E na verdade, o amor está nas coisas simples, no cuidar. 

Descanço em Villatuerta

Continuamos sempre por terra batida até Estella...entre conversas e parvoíces, houve momentos de riso intenso... tanto que perdi as forças e aterrei no chão de tanto rir. O caminho tem disto. 

A caminho de Estella


Marco a indicar o caminho para Estella

 Finalmente Estella e como me senti feliz aqui. A Villa é linda, mágica, com um ribeiro onde dá vontade de ficar. A minha intenção inicial era pernoitar aqui, mas pela implicação com o tempo, optámos por fazer mais 2 km e ficar em Ayegui. Mesmo assim, parámos 1h à beira rio para namorar um pouco. Ao que consta existe uma fonte de vinho, sim VINHO, para os peregrinos... mas acho que a perdemos. Eu só vim a descobrir depois, pelo que estejam atentos. 


Já era cerca das 15h quando prosseguimos até Ayegui. Bom, o albergue é uma adaptação de um poli-desportivo. O piso inferior tem algumas camas e toma-se banho no balneário, com ÁGUA FRIA!!!!Fria não, GELADA! Não tem local para cozinhar, apenas tem umas mesinhas e umas máquinas de distribuição de comida. Tem um restaurante  com um único prato disponível: Frango. Se bem que tem supermercados pertinho. O Bruno ficou logo de 'trombudo' pelas condições do albergue [mas já se sabe que é o que é] e bom, com a fome e o cansaço lá mandou vir comigo. Claro que me passei... virei costas e segui para o 'reconfortante banho'. Mas o destino tem destas coisas e ele esqueceu-se da toalha. Resultado: eu fui-lhe entregar (de esguelha) a toalha e perante a situação teve de ceder. Bem, não há como colocar à prova um amor, de que ir a situações de exaustão. 

No final do dia o Bruno disse algo que por agora ditava o nosso caminho: "ou isto rebenta, ou isto aguenta"...

24 dias faltavam para perceber...

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